Autismo em Embu-Guaçu: entre desafios, união e a busca por inclusão verdadeira
Autismo em Embu-Guaçu: entre desafios, união e a busca por inclusão verdadeira
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição que afeta o desenvolvimento da comunicação, do comportamento e das interações sociais. Nos últimos anos, o tema ganhou mais visibilidade no Brasil, mas em cidades como Embu-Guaçu, a realidade das famílias que convivem com o autismo ainda é marcada por grandes desafios, falta de estrutura e uma luta constante por direitos.
Em Embu-Guaçu, o diagnóstico do autismo costuma começar com a observação de sinais por parte dos pais ou professores, seguido de uma avaliação inicial com pediatras da rede pública. Esses profissionais encaminham para especialistas, como neuropediatras, psicólogos e fonoaudiólogos. Porém, a espera por consultas especializadas no sistema público é longa, e em muitos casos as famílias recorrem à rede particular, arcando com altos custos para obter um laudo mais rápido.
Esse atraso pode prejudicar o início das intervenções, que são fundamentais para o desenvolvimento da criança. Quanto mais cedo o diagnóstico for confirmado, mais eficazes serão as terapias, aumentando as chances de autonomia e qualidade de vida no futuro.
As chamadas mães atípicas — mulheres que criam filhos com deficiência ou condições como o autismo — são protagonistas dessa luta. Em Embu-Guaçu, elas enfrentam uma rotina exaustiva: além dos cuidados diários e das terapias semanais, precisam lidar com a falta de estrutura das escolas municipais, que muitas vezes não contam com mediadores, salas adaptadas ou recursos pedagógicos inclusivos.
A capacitação dos professores também é um ponto crítico. Apesar de haver profissionais comprometidos, a maioria não recebe treinamento contínuo sobre como lidar com alunos autistas, o que dificulta a inclusão e, por vezes, leva a situações de isolamento das crianças em sala de aula.
Diante das dificuldades, mães e simpatizantes da causa se uniram para criar uma rede de apoio ativa no município. Utilizando redes sociais e um grupo de WhatsApp, elas compartilham informações, acolhem novas famílias e orientam sobre direitos e tratamentos.
Mas a mobilização vai além do ambiente virtual: organizam passeatas de conscientização, palestras educativas e eventos como cafés da manhã inclusivos, que fortalecem laços e ampliam o debate sobre o autismo na cidade. Essas ações também têm um efeito de pressão sobre o poder público, reforçando a necessidade de políticas permanentes de inclusão e ampliação dos serviços especializados para pessoas com TEA.
Uma conquista importante para essas famílias é a Carteirinha do Autista, documento que garante prioridade no atendimento em órgãos públicos e estabelecimentos privados, além de facilitar o acesso a serviços e benefícios previstos por lei.
Em Embu-Guaçu, a solicitação pode ser feita pela internet, ou presencialmente no GanhaTempo ou por meio da Secretaria de Assistência Social. É necessário apresentar o laudo médico com CID-10 referente ao autismo, documentos pessoais, comprovante de residência e foto.
O município também deveria fornecer gratuitamente medicamentos prescritos para tratar sintomas associados ao TEA, como ansiedade, hiperatividade e dificuldades de sono. No entanto, nem todos os medicamentos que deveriam ser disponibilizados estão de fato acessíveis à população, o que obriga algumas famílias a arcar com os custos por conta própria.
Quando fornecidos, a entrega é feita nas farmácias de alto custo ou unidades de saúde autorizadas, mediante apresentação de receita médica atualizada, documento de identidade e cartão SUS.
Apesar da mobilização das famílias e da boa vontade de alguns profissionais, Embu-Guaçu ainda está longe de oferecer um atendimento inclusivo e estruturado para crianças e jovens com autismo. É urgente ampliar a equipe de mediadores nas escolas, oferecer capacitação contínua para professores, reduzir o tempo de espera para diagnóstico e tratamento, e criar espaços públicos adaptados para lazer e convivência.
Enquanto isso, as mães atípicas seguem firmes, transformando desafios em força e empatia. Cada passeata, cada palestra e cada conversa em grupo é um ato de resistência e de esperança. Elas mostram que, mesmo sem a estrutura ideal, é possível construir um ambiente de acolhimento e informação — e que a verdadeira inclusão começa pela união de quem vive, sente e luta por ela todos os dias.